Vício em apostas é uma crise de saúde pública no Brasil?

As apostas têm se tornado cada vez mais acessíveis no Brasil nos últimos anos e viraram uma febre, principalmente entre os jovens. Mas essa nova forma de diversão possui muitos riscos envolvidos e que costumam ser pouco mencionados quando são divulgados.

Como consequência disso, o número de pessoas que ultrapassaram o limite da diversão vem aumentando no país e os casos de compulsão e vício em apostas tem chamado a atenção. E é aí que entra a pergunta: esse crescimento indica uma crise de saúde pública?

Neste artigo, você vai entender melhor sobre a ludopatia, se o transtorno é de fato um problema de saúde pública e como funciona o tratamento para a compulsão no Brasil. Além disso, também vamos explorar as mudanças promovidas pela regulamentação e pelo Jogo Responsável.

Entenda o que é vício em apostas

vício em apostas é classificado como transtorno do jogo compulsivo. Basicamente, quem tem essa condição possui maior dificuldade de resistir aos impulsos de apostar, mesmo com os prejuízos à vida social, financeira e até à saúde mental.

O transtorno afeta diretamente regiões do cérebro responsáveis por ações importantes, como o sistema de recompensas e o córtex pré-frontal. O primeiro está ligado às sensações de prazer e liberação de dopamina, já o segundo é o que nos permite tomar decisões e controlar impulsos.

As áreas acabam sendo prejudicadas e, por isso, tentar parar de apostar sozinho usando apenas a sua força de vontade é muito difícil. A compulsão pelo jogo precisa de cuidados especializados e tratamento para superar o problema e evitar recaídas.

Ludopatia requer atenção similar à outros transtornos mentais

A ludopatia é um transtorno mental grave, com reações que afetam diretamente o cérebro da pessoa. Inclusive, existem similaridades com a dependência química, por conta dos mesmos efeitos sofridos pelo viciado em drogas e pelo viciado em apostas.

O que ocorre é a liberação de dopamina, conhecida como hormônio do prazer, responsável por causar uma sensação prazerosa no organismo. Esse efeito acontece quando a pessoa joga ou ganha o prêmio, no caso das apostas, e quando o usuário consome a droga.

Conforme o tempo passa, seu corpo começa a ser mais tolerante e pede níveis cada vez mais altos do hormônio. A consequência disso é o aumento da frequência e risco das apostas e do consumo de drogas, alimentando o ciclo do vício.

Em ambos os casos, apenas força de vontade não é o suficiente para interromper as apostas ou o uso das drogas. O comportamento compulsivo não permite que você tenha o controle sobre as suas decisões e mesmo que você tente parar, vem a abstinência e as recaídas. Por isso, é necessário apoio especializado.

Como tratar o vício em apostas no Brasil?

Embora não tenha ações específicas para o tratamento da ludopatia, ainda existem alternativas para lidar com a compulsão no Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, oferece atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito.

A assistência ocorre pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, mais especificamente através dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS). Ao todo, a rede conta com 6.397 unidades pelo país, sendo divididas entre unidades de Atenção Primária à Saúde (APS), Unidades Básicas de Saúde (UBS) e CAPS.

A pessoa recebe assistência multiprofissional e cuidado terapêutico conforme a sua situação. Inclusive, algumas modalidades desses serviços também oferecem acolhimento noturno e cuidado contínuo em situações de maior complexidade.

No entanto, a rede pública não conta com profissionais especializados e ainda precisa lidar com outros problemas crônicos. Entre eles, estão a demora no atendimento, com longas filas de espera, e a falta de um acompanhamento contínuo durante a alta demanda e momentos de escassez.

Vício em apostas é uma crise de saúde pública?

Para entendermos se a compulsão por apostas é de fato uma crise na saúde pública, é preciso saber o que se configura como um colapso da saúde. Pela definição do Ministério da Saúde, seria uma escalada no número de pessoas afetadas e o potencial para exceder os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Portanto, podemos sim considerar a ludopatia como uma crise na saúde pública. São mais de 2 milhões de brasileiros viciados em apostas, de acordo com levantamento feito pela Universidade de São Paulo (USP), e o sistema de saúde não possui recursos especializados para o tema.

Além disso, esses dados também mostram que o vício em apostas precisa de mais atenção. Atualmente, o Brasil conta apenas com a regulamentação das casas de apostas pela Lei 14.790/2023 e as obrigações a serem seguidas pela Portaria de Jogo Responsável.

Regulamentação e Jogo Responsável

Apesar do foco da regulamentação das bets no Brasil ser o combate à lavagem de dinheiro, fraudes, a proteção de dados dos usuários e adequação às normas do país, a lei também tornou o mercado mais seguro para os apostadores.

E para garantir a proteção dos usuários, a regulamentação estipulou para as casas de apostas práticas de Jogo Responsável. Entre elas, estão permitir que apostadores definam limites financeiros; oferecer ferramentas de controle e suporte psicológico; promover campanhas educativas sobre os riscos do jogo patológico; oferecer a possibilidade de autoexclusão; e controlar o tempo de jogo.

Mesmo com as medidas e até penalizações em caso de não cumprimento, ainda não foram criadas políticas públicas para prevenção e tratamento de jogadores compulsivos. Como falamos anteriormente, o SUS não possui profissionais especializados ou ações voltadas para combate à ludopatia.

Qual o papel do Instituto de Apoio ao Apostador?

Além da Rede de Atenção Psicossocial do SUS, é possível buscar apoio em instituições sem fins lucrativos especializadas no vício em apostas, como o Instituto de Apoio ao Apostador. O papel do IAA é trabalhar na prevenção e no tratamento de jogadores compulsivos, oferecendo serviços gratuitos.

Nosso suporte serve como uma alternativa confiável e altamente capacitada para ajudar viciados em apostas. Para isso, disponibilizamos serviços como atendimento individual, salas de apoio coletivas, grupos de apoio para familiares, sessões de educação financeira e materiais informativos.

Dessa forma, oferecemos as ferramentas certas para pessoas que precisam de apoio e acolhimento. Conheça mais sobre o nosso trabalho e veja como podemos fazer a diferença na sua vida.

Juntos, podemos prevenir e tratar o vício em apostas.


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